9 de mai. de 2006

Música, realmente o alimento da alma

Los Porongas no Festival Mada - Natal, RN
por João Eduardo
Indo...
Voar não é lá aquilo que mais gosto na vida. Enquanto Anzol, Márcio e Diogo caem no sono já mesmo durante a decolagem, eu fico ali, ligado no barulho das turbinas..
Bem, embarcamos para o Mada com as mais incertas das expectativas, sem a menor idéia do que poderia acontecer nas terras potiguares.



“Senhoras e senhores, bem vindo a Brasília, temperatura 13 graus. A Gol, na sua maneira inteligente de ser...”, chega de aeromoça. Longa pausa de 14 horas em Brasília, para seguirmos com a conexão para Natal. Aproveitamos o ensejo para nos reunirmos com o Fernando Rosa (Senhor F Discos) e acertar os detalhes da gravação do 2º CD. Fernando aparece e seguimos para o seu apartamento, com o mesmo orientando o taxista quanto as tradicionais coordenadas de qualquer endereço brasiliense: “siga para Norte, C, 408, 245°, f(x) 23,7, lat 23, longit. 32,6.” Chegando lá, um café da manhã típico de metrópole nos aguardava. Conversa vai, conversa vem, ouve isso, saca aquilo, e tal. Conhecemos a Bete, esposa do Fernando, super serena, bem acostumada com o trâmite musical das bandas que já passaram por ali. O telefone do Fernando toca, é o Plebe Rude Philippe Seabra. “Ok, Philippe, já, já estaremos aí”.
Bate-papo com Fernando Rosa: café da manhã metropolitano

Som em Brasília
Novamente, outra coordenada equacional / longitudinal para o taxista e seguimos para a Asa Sul, na casa do Philippe, um dos quartos da maternidade do rock de Brasília. Um pedreiro está finalizando uma escada de madeira improvisada, que dá acesso ao Daybreak Studio, que segundo o Fernando, possui um dos melhores sons de batera e guitarra do país. Na sala de gravação, uma dezena de caixas de bateria, amps de guitarra, e o papo rola solto, com o Philippe soltando algumas expressões do ramo da tecnologia musical, que nunca ouvimos na vida. Papo produtivo. Almoçamos uma deliciosa macarronada, onde o Diogo sugou todos os detalhes do surgimento da cena rock brasiliense, como bom fã do Manfredini que é. “Ok, vamos fazer um som?”. Esse foi o grande desafio do dia. Pelo menos pra mim, que estava sem minha alma gêmea, a pedaleira, que tinha deixado no guarda-volumes do aeroporto assim como os pratos do Anzol e a pedaleira do Magrão. Tocamos as músicas “a seco”, mesmo. A cada música que tocávamos, Phlippe ia fazendo suas anotações, com um olhar crítico e atencioso, sobre os mais variados detalhes: os pratos daquela parte, o dedilhado da outra, o desenho do baixo tal. Tudo muito novo pra nós, receber as orientações de um produtor, que está ali para visualizar o CD gravado, pronto. Interessante.
Philippe, Fernando Rosa e Porongas
" Daybreak" no estúdio

Rumo aos Potiguares
21:00, hora de embarcar para Natal. “Em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão...” , porra, podia ter um fone de ouvido em cada poltrona, aí quem quisesse, ouviria as orientações. No sobrevôo da escala em Recife, eu e o Anzol tentávamos adivinhar onde estava o mar, à noite... chutamos umas dez possibilidades.
Chegada em Natal, alguns problemas com a recepção por parte da organização, que não estava muito afim de nos recepcionar – afinal, o que mais podemos esperar de quem está esperando uma banda do Acre? O hotel é do caralho, beira-mar, ao fazermos o check-in, começa o show do Rappa. O local dos shows era ao lado do hotel. Muita barulheira, muita gente, muito grave, e os caras entoando aquilo que já fazem há mais de treze anos. Ainda bem que os caras tocaram plugados, sem aquelas mangofas do acústico.

"A vista do quarto do hotel... é uma doideira"

Dia de Show
Dia seguinte, uma breve praia para aquecer. Como todo mundo diz, as praias de Natal realmente são maravilhosas. Ah, perdemos a passagem de som, que estava marcada para às 9 da manhã. Já são quase 9 da noite, próximo a hora do show, e recebemos o convite da MTV para participarmos de um campeonato de “totó” interbandas, com o Daniel Beleza e os mosntros musicais do Macaco Bong (que, infelizmente, mas infelizmente, mesmo, não chegamos a tempo de ver o show dos caras). Gravamos o quadro, e tome show. Foi aí que rolou a maior surpresa: cerca de mil pessoas já estavam na espera do show, fato que foi bastante comentado, pois jamais a primeira banda de uma noite do festival havia tocado para “tanta gente”. Era muito mais do que esperávamos. Eu, pelo menos, já havia contado o número de seguranças que iriam assistir ao show, cerca de 20, e estava contente com isso. O show foi muito bem recebido, começamos com “Tudo Ao Contrário”, depois veio “Lego de Palavra”, “Enquanto Uns Dormem”, “Nada Além”, “Subvertigem” e “Ao Cruzeiro”. Fiquei realmente impressionado com a recepção do público. Valeu a pena. A galera do Acre residente nas redondezas marcou presença, com a nossa conhecida bandeira. Emocionante. Recebemos também muitos elogios por parte da organização e da imprensa que estava cobrindo o Festival:
Página principal do Laboratório Pop/RJ, no dia seguinte do Festival
Showzaço o do Cachorro Grande. Confesso que mesmo com a minha aversão a essa gripe do frango do som mod sixties que domina a cena atual, onde os bateristas parecem ser os mesmos das quase 12.342 bandas que andam fazendo esse tipo de som, o show dos gaúchos foi potente, pesado. Muito rock na veia. Aliás, acho que essa infestação sixtie é total influência dos caras, pois é uma das únicas bandas no estilo que ta conseguindo fazer sucesso com isso. Showzão emocionante. O show da Pitty também foi massa, embora bem adolescente. Assisti de cima do placo só pra sentir a vibe de um show headliner.
Na madrugada, ainda rolou um momento all beatles onde trombei com a galera do Cachorro e da MTV no saguão do hotel, que possuía um maravilhoso piano Fritz Dobert de cauda. Dele, entoamos vários clássicos dos fab four, até sermos quase que apreendidos pela segurança, já que eram quase seis da manhã.
*Não tiramos fotos do show, só filmamos, e as imagens vão estar disponíveis na web logo, logo. Nos próximos dias, as fotos dos shows entram no site www.rockpotiguar.com.br.


O maravilhoso Fritz Dobert

Visita da galera do Acre no hotel

O que isso tem a ver com os textos???...

"Breve" retorno

O Sábado começou por volta das 13h, com uma rápida ida à praia, e um delicioso ( e barato) rodízio de camarão. Nos shows da noite, Nando Reis deu a tônica da música honesta no festival.
4 da madrugada, hora de voltar pra casa. “Senhoras e senhores...” , pode falar à vontade agora, moça, porque a vista do mar com o dia nascendo é incrível.
Em Brasília, novamante a longa conexão de 14 horas, fomos ao apê do Fernando, dormimos um pouco, almoçamos um feijão preto com arroz e lingüiça deliciosos, preparados com muito carinho pela Bete, que, segundo o Diogo, tem um “jeito de mãezona”. Conversamos um pouco mais, acertamos alguns detalhes, e embarcamos de volta.

Início da odisséia da volta

Ah, pra variar, ainda iríamos ouvir às orientações dos comissários de bordo mais umas trinta vezes, já que um overbook nos desviou para Manaus e nos fez aguardar cerca de 1 hora em Porto Velho, movidos de muito ânimo e disposição.
Brincadeiras à parte, ânimo e disposição já não haviam mais, porém a felicidade e sensação de dever cumprido, que independem de tudo, reinavam nos quatro corações de cada um da banda.
Valeu, Natal!