13 de set. de 2007

Pelas Gerais...

“Eu sou do ouro, eu sou Minas Gerais”
O estado brasileiro com o maior número de municípios, além das cidades históricas, do Clube da Esquina, do Alto-Falante, do Porcas Borboletas, do Falcatrua e do Lu (esses vcs vão conhecer no decorrer dessa historinha) é também o primeiro estado do sudeste em que os porongas tocaram, ainda em 2006 no pequeno-grande bar A OBRA. Talvez por isso, gostemos tanto de tocar lá... contudo, até final de semana passado só conhecíamos a capital Belo Horizonte. Conhecíamos. Agora fomos a outra cidade, linda cidade... São João del Rey e outras incursões pelas Gerais nos aguardam, o que nos deixa muito contentes nessa vida estradeira.

Conexão
Fomos convidados para participar de um projeto chamado Conexão Telemig Celular. A empresa, financia projetos beneficiados pela Lei de Incentivo Estadual e realiza eventos com vários artistas de Minas Gerais e convidados do Brasil inteiro. Esta foi a sétima edição do Conexão.

Falcatrua falando alto
Quem nos convidou foram os Falca, para os íntimos. A banda Falcatrua(http://www.falcatrua.com.br/), que mistura rock, samba, circo, música pop e poesia de alto nível em seu pau de arara espacial tinha de convidar um artista para dividir o palco em três apresentações. São João del Rey (07/09), Uberlândia (05/10) e BH (ainda sem data). A dica para o encontro veio da cabecinha iluminada de um desses jornalistas musicais que não se contentam em escrever a história e acabam participando dela. Terence Machado, do Alto-Falante sugeriu os Porongas e os Falcatrua, que já haviam tocado junto conosco nos 9 anos de Alto-Falante ano passado toparam a idéia.
Na estrada
Depois de alguns cordiais e-mails e telefonemas depois para acertarmos desde as passagens até o formato da apresentação arrumamos as malas e partimos para São João. A saída de sampa foi demorada... imaginem toda São Paulo querendo fugir de si mesma para aproveitar o feriadão! Fazíamos parte dessa enorme boiada e apesar do engarrafamento que atrasou a viagem em cerca de duas horas, passamos oito horas na estrada (nada, é verdade, para quem já saiu do Acre de busão!).
Amanheceu
O cansaço da viagem foi amenizado pela beleza do amanhecer em Minas. O nascer do sol sobre os ipês roxos que se espalham pelos campos é indescritível e foi sob o efeito desses entorpecentes que chegamos à rodoviária da cidade e partimos para o Hotel Chafariz.



















Pão de queijo, requeijão e queijo qualho
Quando aportamos no hotel, os quartos ainda não estavam disponíveis mas o café já estava liberado. Oba! Será que tinha pão de queijo? Depois de satisfazer nossos desejos gastronômicos os quartos já haviam sido liberados. Os porongas estavam com sono mas eu, pra variar, queria entrar na internet. Sobem os músicos para tirar um cochilo e resta o canário no saguão do hotel dando aquela navegada com o velho amigo google, pedindo para que ele e o simpático funcionário do hotel explicassem mais sobre a cidade da qual tanto eu ouvira falar pelos livros de história.


















Ah, é claro que essa navegada tinha que ter trilha sonora... Longos Dias (http://www.myspace.com/falcanice), do Falcatrua, tocou incessantemente até eu descobrir que a cidade tinha cerca de oitenta mil habitantes, era de hábitos rurais e dona de um patrimônio histórico inigualável. Foi lá que nasceram Tancredo Neves, Bárbara Heliodora (foi massa estar onde nasceu a maternidade de Rio Branco, seria ela mesma?) e o próprio inconfidente-mor, Tiradentes, mas o município vizinho reclama que este último nasceu lá. O mais louco... várias construções da city foram erguidas no século 1700. Um banquete para os olhos nos aguardava.


Cochilo e passagem
Umas dez da matina, a van comandada pelo produtor-alegria Luciano, ou melhor, “luciano-não-porra-LU!” encosta no Chafariz e de dentro dela vão saindo mais uma leva de mineiros-gente-boa (acho que isso é uma espécie típica das Gerais). Os Falcatrua chegavam à cidade. Depois de um alô rápido, subi para tirar um cochilo até a hora da passagem de som, que seria dali a pouco.
Lá pelas 11, os Falcatrua foram primeiro e na “quência”, como dizem os cuiabanos, os porongas desceram para aguardar a van. O bom é que o Magrão tava com pouco sono então foi muuuuito fácil de convencê-lo a passar o som, rs.



Luuuu
Quando a van voltou pra nos buscar... quem é que nos saúda? LU, é claro! Fomos trocando idéia até o centro histórico onde o palco estava montado. O Lu é de São João, mas mora em BH e trabalha na noite há 18 anos. Produz o falcatrua há um ano e é uma figura, F-i-g-u-r-a! Que aliás, ninguém segura. O cara não pára, resolvendo tudo o que aparece pela frente. Quando chegamos nos deparamos com uma ótima estrutura de som montada num lugar maravilhoso. Enquanto os Falca passavam o som, deu pra “passar o pano” no lugar, sentir os paralelepípedos centenários sob os pés e conhecer o pessoal do Berimbrown, que também se apresentaria à noite.

Together
Passamos o som com Come Together, a música que faríamos juntos, com o André (voz) e Baiano (guitarra) do Falcatrua participando. Foi uma passagem rápida mas que já deu pra sentir como seria a vibe quando a noite caísse, o conexão começasse com outros artistas, e os Porongas, depois do Falcatrua, entrassem para fazer cinco músicas mais o songbeatle.
Come
Naquele clima de jogar conversa fora, que aliás, mineiros e acreanos adoram, chega o Lu com nossas credenciais e mandando todo mundo correr para a van. Hora do almoço no bom restaurante do hotel Chafariz que ficava em outro local, bem perto dali de onde estávamos.






Come (junto)
No almoço, aquela discussão da cena de sempre temperada por ótimas histórias, afinal, almoço com mineiro é almoço de causo. E eis que chegam, na boa hora, Terence e sua esposa, Carina, pra almoçar conosco. Depois das nececidades gastro... o superprodutor Lu anuncia as possibilidades: hotel para os cansados, piscina de água natural para os passeantes, agenda de entrevistas para o Falcatrua. Magrão e quase todos os Falca foram pro hotel tirar uma soneca. André foi cumprir a agenda de imprensa e o tranquilo baixista Danilo (que tb cozinha!) eu, Anzol, João, Terence, Carina e Fred, empresário dos Falca, fomos para um lugar que não era sexo, orégano e rock and roll mas era do caralho, como diria Wander Wildner.
Um velho calção de banho...
Anzol, desprovido do velho calção de banho quase fica sem passear, não fosse o Lu, claro, que emprestou uma bermuda que ainda combinava com a toca e a blusa do nosso estiloso batera. E lá fomos nós desfrutar aquela tarde mineira... só quem entrou na água foram os porongas, mas o Anzol saiu logo e enquanto os adultos conversavam, eu e o joão aproveitamos a piscina e os jatos de água mineral – a melhor hidromassagem da história. Me lembrei do tempo em que eu era moleque e saia com os dedos todos engilhados da água, sob os cuidados já impacientes do meu pai. Fazia tempo que não me divertia tanto...

Mineiros pescam no purus
Lá pelas cinco da tarde... o super Lu reapareceu para nos levar de volta ao hotel, acompanhado do André e do Alexandre, um cinegrafista-mineiro-gente-boa que registrava tudo e que já acompanha o Falcatrua há um tempo. O João pegou uma trilha e tirou fotos lindas.

Enquanto esperávamos ele voltar deu pra conversar com um senhor que pegava água na fonte e ele nos explicou que a água daquele lugar era milagrosa. O senhor era um pescador que já tinha ido ao Acre quando mais jovem. Segundo ele, o maior peixe que já pegou foi no Purus, em terras acreanas. Sou eu que vou duvidar?







Fala toca janta fala
De volta ao hotel... um papo de bons longos-curtos minutos com André. O vocalista do Falcatrua é desses front man mais sensíveis que aparecidos, dotado de uma percepção muito particular. Todas as tralhas arrumadas, roupas e acessórios na mochila e vamos para o jantar. E que jantar! O lugar era aconchegante, além da comida refinada ainda tinha um piano... prato cheio para os beatlemaníacos de plantão que alegraram os demais com notas de liverpool.

O jantar foi ainda melhor porque além da trupe porongas-falcatrua-alto-falante, juntaram-se a nós Pablo Capilé, Marielle e Lenissa Lenza...




Ação...

e resultado!

Papo ao cubo em alto-falante
O cubo-man-maior e as cubo-girls estavam em São João para participar do circuito de oficinas que também faziam parte da programação do Conexão. Como sempre muita sintonia na degustação coletiva de idéias, sonhos e ideais. A mesa gigante teve espaço para discutir da falência do mercado fonográfico aos pousos e decolagens do Flyth Simulator. Magrão, que já havia pedido um delicioso Chardonay, degustado por quase todos, encontrou no Carioca, batera dos Falca, e no Igor, roadie dos mineiros, dois animados interlocutores para as experiências de pousos e manobras virtuais de boeings e aeronaves outras.
Horários e distrações
E quem é que chega? Lu! É, óbvio! - 10 MINUTOS todo mundo na van pra zarpar para o local do show!!! E todos numa obediência religiosa, voluntária e sorridente se distribuíram em devidos seus lugares e seguiram para o centro histórico, para a igreja, para o palco, para o show. Todos menos o João, que ficou pirando no piano baixinho, como quem resolve um problema matemático, numa de suas novas composições. Quer dizer, nem todos tinham ido porque o Terence fotografava o João e eu fotografava o Terence e prestava atenção na explicação do João sobre a idéia nova. Ê, delícia!
Soulll
Lá chegando nos deparamos com um público que tomava a rua de paralelepídedos assistindo a apresentação dos primeiros artistas da noite.


Curtimos um pouco dos shows e deu pra entrar na dança quando o Berimbrown subiu ao palco. Por pouco tempo, é verdade, até o Lu, claro, quem mais? Chegar e sair catando todos os Falcatrua e Los Porongas para se reunirem no camarim.

Nas coxas
Antes disso, ainda deu tempo de me afastar do som e da muvuca com o André e passarmos a música que faríamos juntos, literalemente “nas coxas”, já que márcavamos o tempo batendo na perna. Os dois ali, sentados no meio fio cantarolando Come Together. Dois canários desprovidos de seus escudeiros harmônicos, os guitarristas, sempre mais que necessários, mas se virando bem...

Rituais
Antes do Falcatrua subir, fizemos a reunião da “merda” coletiva, atrás do palco e trocamos os cumprimentos. De mãos dadas, levantamos os pés direitos até uma altura média enquanto nos olhávamos nos olhos e depois pisamos com força o chão, para entrar com o pé direito. É um bonito ritual o dos caras. Nessas horas a gente se sente como os índios que trocam presentes e rituais quando em terra alheia. Os Porongas costumam se abraçar e ouvir do porta-voz-da- hora- merda, João Eduardo, o velha palavra de guerra “vamo destruir!” E assim foi feito... ali, começava de fato uma parceria que ainda vai render muitos frutos, intuo.

Bonito pau de arara
O Falcatrua entrou tarde, pouco mais de meia noite, pois o evento atrasou. O show foi intenso e ao final os caras viram uma platéia gritando o nome da banda. Bonito de ver como eles são respeitados em seu lugar... a imagem que veio à cabeça, sem dúvida, foi a do público do Acre depois dos shows.

Quem viu, viu
Nos anunciaram e para uma platéia já reduzida por conta da hora, mas muito atenta e qualificada nos apresentamos com Lego, Suspeito, Tudo ao Contrário, Espelho de Narciso e Não Há, ops, Não Há, não! O coordenador de palco disse que só poderíamos fazer mais uma... então... que fosse o nosso número coletivo!!!


Baiano e André se aprochegaram e Come Together rolou bonita como tinha de ser, afinal estávamos em Minas Gerais, terra do Clube da Esquina, a turma brasileira que conseguiu reler os Beatles de forma mais brasileira, doce e inventiva na história da nossa música.

A performance no finalzinhoda música e as positive vibrations que rolaram podem ser conferidas aqui, por Terence Machado: http://vids.myspace.com/index.cfm?fuseaction=vids.individual&videoID=17783557

A luz
Depois do show, foi massa ver a alegria no rosto das pessoas que ficaram para assistir aos shows e conversar com elas, bem como cutir o clima entre os músicos e a equipe toda. De volta ao hotel, uns foram dormir e enquanto uns dormem outros caem na balada. Eu, João, Igor(roadie Falcatrua), Alexandre, Diogo (xará assistente do Alexandre) e Lu, claaaaro, fomos a uma boate e essa é uma longa história que terminou com todos, menos o Lu, que foi embora antes, voltando a pé da boate, num dos amanhceres mais produtivos da vida, se levarmos em consideração o trajeto, as idéias, a paisagem e sim, a luz, a luz, a luz.

Exploradores

No dia seguinte João, entregue em plenitude aos braços de morfeu, ficou no hotel enquanto eu, Márcio e Anzol saímos para almoçar.


Foi quando aproveitamos para fazer aquele turismo e perceber o quanto aquela cidade de gente tão atenciosa é realmente especial.

A boa tarde
Nas andanças pela cidade procurando o pessoal topamos a Carina, que esperava o Terence sair da oficina para irem embora junto com os Falcatrua para BH. Encontramos também o Danilo baixista, com quem conversamos numa psicodélica pracinha até voltarmo ao bar onde estava com a esposa do Terence. Logo chegaram... advinha quem??? O Lú, vocês tinham alguma dúvida? Com Carioca, André, que também havima ministrado oficinas, com os outros da trupe já se armando para partir rumo a Belo Horizonte. Ainda deu tempo de rolar uma sessão de piadas inspiradas do Carioca e do Magrão. É, os caras têm mais em comum que os vôos virtuais.

Despedida
Pegamos uma carona com eles até a rodoviária e nos despedimos, com direito a uma despedida especial do Lu para o João, que tinha ficado no hotel.
Doce Tiradentes
Na “quência” arriscamos ir para Tiradentes, cidade ao lado... na hora do por-do-sol. O Mp3 do João com a versão da Elis para Maria, Maria do Miltom Nascimento só se compara ao pássaro branco que acompanhou o busão voando em paralelo durante boa parte da vaigem.

Quando chegamos já era noite, mas apesar de não aproveitarmos o turismo ofical, a não ser pela da igreja que visitamos, deu pra aproveitar bem os doces maravilhosos que a peqeuna cidade romântica, a menos de 40 minutos de São João tinha.O Anzol que o diga!







Back to Sampa
De volta a São João, taxi até o Chafariz, check-out, rodoviária, busão... aquela sensação de missão cumprida. E a felicidade de saber que só com o Falcatrua isso vai se repetir mais duas vezes. Enquanto as luzes de sódio dos postes da cidade ficavam cada vez mais distantes, eu tentava esquecer do DVD do César Mennoti e Fabiano que o motorista tinha colocado pra rodar e me entregar aquela plenitude que, imagino, preenche o íntimo das pessoas que se sentem felizes em fazer o que fazem. Sim, se é pra sentir aquilo que seja sempre.




13/09/2007
diogo soares
fotos por diogo, joão e terence